Primeiro disco solo de Domenico Lancellotti, ‘Cine privê’ (Coqueiro Verde Records) aposta em ambientações e barulhinhos para compor a trilha sonora de um filme imaginário. Cercado pelos parceiros de longa data Moreno Veloso (percussão) e Kassin (guitarra), com quem formou o trio +2 – além dos igualmente super requisitados Pedro Sá (guitarra) e Alberto Continentino (baixo) –, Domenico destila certa bossa ao cantar baixinho, num tom sussurrante, quase cool (alô Les Pops!).
Gravadas em sessões ao vivo, as dez faixas que compõem o roteiro cinematográfico criado pelo compositor e baterista parecem induzir o ouvinte/espectador a criar as cenas descritas nas canções, em um processo que exige atentas audições. São muitos os detalhes, intervenções e, apesar do clima participativo que marca o álbum – e a carreira de Domenico –, ‘Cine privê’ é disco para se ouvir longe de qualquer burburinho. “Meus cinco sentidos só me deixam mais sozinho” constata ‘5 sentidos’ (Domenico Lancellotti/ Moreno Veloso).
A construção das imagens é facilitada por faixas como ‘Os pinguinhos’ (Tomás Ferreira/ Domenico Lancellotti) que tem a letra descritiva realçada pela sensível textura sonora, recriando o ritmo da chuva “que molhava o quintal”.
O balanço de ‘Receita’ (Domenico Lancellotti/ Jorge Mautner) é cortado pelos efeitos da guitarra de Pedro Sá que simula a quarta dimensão citada na letra. Mesmo eco tropicalista presente na concreta ‘Pedra e areia’, criação coletiva com a participação de Adriana Calcanhotto no refrão que liquidifica os elementos do título.
Os bonitos versos italianos de ‘Su di te’ (Alberto Continentino/ Domenico Lancellotti) soam ao pop dos anos 1960, assim como a ritmada ‘Zona portuária’ (Domenico Lancellotti/ Kassim) explicita a influência bossa-novista de Marcos Valle.
A sonoplastia da “corda que rangia” em ‘Fortaleza’ (Domenico Lancellotti) escora a voz pequena do dublê de cantor, ausente apenas na instrumental ‘Hugo Carvana’ (Domenico Lancellotti), marcada pela bateria de Lancellotti.
Como as trilhas sonoras feitas para cinema, ‘Cine privê’ (Domenico Lancellotti) propõe belas cenas a ouvidos mais atentos e, definitivamente, não foram feitas para embalar blockbusters.
Comentários