Prestes a completar 70 anos no dia 29 de abril, Nana Caymmi compareceu à pré-estréia de ‘Rio sonata’, documentário dirigido pelo franco-suíço Georges Gachot do qual é a personagem principal, segunda-feira (18/04) no teatro da Maison de France, Centro do Rio. “Nana, sua vida é um sonho musical”, derramou-se o diretor, que já havia apontado suas lentes para outra diva da MPB, Maria Bethânia, em ‘Música é perfume’ (2005).
“Só mesmo um francês para entender o que faço, para fazer um filme. Público eu tenho em qualquer lugar, mas ele colocou a artista, a intérprete, coisa que o Brasil não conseguiu fazer nas telas porque eu não rendo dinheiro. Chama-se cultura, arte", disparou Nana com sua habitual franqueza.
O “francês” surpreende ao afastar a cidade natal de Dinair Tostes Caymmi dos clichês cinematográficos: um Rio de Janeiro nublado e ainda mais portentoso serve de moldura para as canções entoadas por Nana. O mar cantado pelo patriarca dos Caymmi está lá agitado, dividindo preciosas cenas com a Mata Atlântica que sempre corre o risco de ser encoberta por nuvens. Gachot dá ares impressionistas ao seu filme, sugerindo um sobrevôo pela cidade e pela carreira da cantora. Em fina sintonia com a forte personalidade de sua personagem, essa “mudança dos ventos” afasta a monotonia que assombra os documentários, ainda que o ritmo seja prejudicado por algumas participações.
Nada disso desvia a atenção da estrela, que também fala sobre sua vida, família e carreira nos 84 min. de duração de ‘Rio sonata’. O amor pela música clássica – não por acaso tema dos filmes de Georges durante 15 anos – é destacado por Nana, admiradora de Debussy, Ravel e Tchaikovsk. Felizmente, os grandes compositores brasileiros também fizeram a cabeça da cantora e o que ouvimos é a boa música popular brasileira. Da nostálgica ‘Até pensei’ (Chico Buarque) logo no início, até ‘Sorri’, certeira versão de Braguinha para ‘Smile’ (Charles Chaplin), nos créditos finais, não faltam interpretações inesquecíveis.
Momentos históricos como a seminal participação de Nana no I Festival Internacional da Canção (1966), quando defendeu a ‘Saveiros’ do irmão Dori e de Nelson Motta, ou a parceria com o então marido, Gilberto Gil, em ‘Bom dia’ no III Festival da Música Popular Brasileira (1967). “A música é mais de Nana do que minha”, afirma Gil. Um dos melhores números musicais de ‘Rio sonata’ é versão impactante que Nana dá para ‘Atrás da porta’ (Chico Buarque/ Francis Hime), sucesso de Elis Regina.
E assim a voz da cantora vai unindo as imagens, costurando retalhos nem sempre coerentes captados por Georges. Há cenas impagáveis de Nana em seu cotidiano, seja no estúdio de gravação, no táxi ou mesmo na mesa de carteado, onde afirma categórica se adorar cantando. Ou ainda quando, auxiliada por algumas doses, canta, divertida, ‘Requebre que eu dou um doce’ com Miúcha e Maria Bethânia no camarim do show ‘Brasileirinho’.
‘Rio sonata’ ainda oferece pistas para aqueles que ainda questionam a popularidade da cantora, que chegou a ouvir de um anônimo o pedido por “uma garrafa de uísque autografada”, após ter cantado ‘Na rua, na chuva, na fazenda’ (Hyldon) em um show em São Paulo. Tudo levado numa boa pela intérprete de ‘Resposta ao tempo’ (Aldir Blanc/ Cristóvão Bastos) e ‘Não se esqueça de mim’ (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) – campeãs das trilhas sonoras televisivas.
Nem sempre expressivas, as inevitáveis participações especiais pontuam o documentário. Além de Bethânia, Gil, Dori e Jobim, estão em ‘Rio sonata’ João Donato, Milton Nascimento, Miúcha, Suely Costa, Mart’nália e, claro, o querido Dorival Caymmi que compôs ‘Acalanto’ para ninar Nana. “Eu não precisava de mais nada da vida”, emociona-se a cantora, com os olhos brilhantes. A sonata de Nana Caymmi é assim: clássica, popular, erudita, espirituosa. “Canto tudo o que gosto” finaliza a artista que nunca se importou em construir uma imagem politicamente correta. Nana quer é viver. Sem poupar coração.
“Só mesmo um francês para entender o que faço, para fazer um filme. Público eu tenho em qualquer lugar, mas ele colocou a artista, a intérprete, coisa que o Brasil não conseguiu fazer nas telas porque eu não rendo dinheiro. Chama-se cultura, arte", disparou Nana com sua habitual franqueza.
O “francês” surpreende ao afastar a cidade natal de Dinair Tostes Caymmi dos clichês cinematográficos: um Rio de Janeiro nublado e ainda mais portentoso serve de moldura para as canções entoadas por Nana. O mar cantado pelo patriarca dos Caymmi está lá agitado, dividindo preciosas cenas com a Mata Atlântica que sempre corre o risco de ser encoberta por nuvens. Gachot dá ares impressionistas ao seu filme, sugerindo um sobrevôo pela cidade e pela carreira da cantora. Em fina sintonia com a forte personalidade de sua personagem, essa “mudança dos ventos” afasta a monotonia que assombra os documentários, ainda que o ritmo seja prejudicado por algumas participações.
Nada disso desvia a atenção da estrela, que também fala sobre sua vida, família e carreira nos 84 min. de duração de ‘Rio sonata’. O amor pela música clássica – não por acaso tema dos filmes de Georges durante 15 anos – é destacado por Nana, admiradora de Debussy, Ravel e Tchaikovsk. Felizmente, os grandes compositores brasileiros também fizeram a cabeça da cantora e o que ouvimos é a boa música popular brasileira. Da nostálgica ‘Até pensei’ (Chico Buarque) logo no início, até ‘Sorri’, certeira versão de Braguinha para ‘Smile’ (Charles Chaplin), nos créditos finais, não faltam interpretações inesquecíveis.
Momentos históricos como a seminal participação de Nana no I Festival Internacional da Canção (1966), quando defendeu a ‘Saveiros’ do irmão Dori e de Nelson Motta, ou a parceria com o então marido, Gilberto Gil, em ‘Bom dia’ no III Festival da Música Popular Brasileira (1967). “A música é mais de Nana do que minha”, afirma Gil. Um dos melhores números musicais de ‘Rio sonata’ é versão impactante que Nana dá para ‘Atrás da porta’ (Chico Buarque/ Francis Hime), sucesso de Elis Regina.
E assim a voz da cantora vai unindo as imagens, costurando retalhos nem sempre coerentes captados por Georges. Há cenas impagáveis de Nana em seu cotidiano, seja no estúdio de gravação, no táxi ou mesmo na mesa de carteado, onde afirma categórica se adorar cantando. Ou ainda quando, auxiliada por algumas doses, canta, divertida, ‘Requebre que eu dou um doce’ com Miúcha e Maria Bethânia no camarim do show ‘Brasileirinho’.
‘Rio sonata’ ainda oferece pistas para aqueles que ainda questionam a popularidade da cantora, que chegou a ouvir de um anônimo o pedido por “uma garrafa de uísque autografada”, após ter cantado ‘Na rua, na chuva, na fazenda’ (Hyldon) em um show em São Paulo. Tudo levado numa boa pela intérprete de ‘Resposta ao tempo’ (Aldir Blanc/ Cristóvão Bastos) e ‘Não se esqueça de mim’ (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos) – campeãs das trilhas sonoras televisivas.
Nem sempre expressivas, as inevitáveis participações especiais pontuam o documentário. Além de Bethânia, Gil, Dori e Jobim, estão em ‘Rio sonata’ João Donato, Milton Nascimento, Miúcha, Suely Costa, Mart’nália e, claro, o querido Dorival Caymmi que compôs ‘Acalanto’ para ninar Nana. “Eu não precisava de mais nada da vida”, emociona-se a cantora, com os olhos brilhantes. A sonata de Nana Caymmi é assim: clássica, popular, erudita, espirituosa. “Canto tudo o que gosto” finaliza a artista que nunca se importou em construir uma imagem politicamente correta. Nana quer é viver. Sem poupar coração.
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