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Mostrando postagens de abril, 2011

O lado autoral de Patricia Mellodi

“ Eu tenho muito mais para dar/ muito mais do que você pode notar”, avisa Patricia Mellodi em ‘Duas ou três coisas’, faixa que abre seu novo álbum, ‘Do outro lado da lua’ (Saladesom records). Radicada no Rio de Janeiro há quase duas décadas, a cantora e compositora piauiense buscou canções adormecidas no fundo do seu baú autoral para compor o painel sentimental que caracteriza o trabalho. Outrora capitaneada por compositores que apresentavam suas canções através de intérpretes femininas, a música popular brasileira viu a multiplicação de cantoras/compositoras dominar a cena (principalmente) a partir da bem sucedida – e pensada – carreira de Marisa Monte. Se antes poucos eram os expoentes femininos na arte da composição, atualmente é raro encontrarmos uma intérprete que não queira dar voz às próprias palavras.  Apesar dessa intensa produção autoral, é sabido que, para furar o bloqueio das viciadas programações das rádios brasileiras, o “pulo do(a) gato(a)” ainda é a regravação ...

Nana Caymmi comanda a ação em 'Rio Sonata'

Prestes a completar 70 anos no dia 29 de abril, Nana Caymmi compareceu à pré-estréia de ‘Rio sonata’, documentário dirigido pelo franco-suíço Georges Gachot do qual é a personagem principal, segunda-feira (18/04) no teatro da Maison de France, Centro do Rio. “Nana, sua vida é um sonho musical”, derramou-se o diretor, que já havia apontado suas lentes para outra diva da MPB, Maria Bethânia, em ‘Música é perfume’ (2005). “Só mesmo um francês para entender o que faço, para fazer um filme. Público eu tenho em qualquer lugar, mas ele colocou a artista, a intérprete, coisa que o Brasil não conseguiu fazer nas telas porque eu não rendo dinheiro. Chama-se cultura, arte", disparou Nana com sua habitual franqueza. O “francês” surpreende ao afastar a cidade natal de Dinair Tostes Caymmi dos clichês cinematográficos: um Rio de Janeiro nublado e ainda mais portentoso serve de moldura para as canções entoadas por Nana. O mar cantado pelo patriarca dos Caymmi está lá agitado, dividindo prec...

Geraldo Azevedo navega nas águas do Velho Chico

Personagem principal de ‘Salve São Francisco’, o mítico rio-mar que atravessa cinco estados brasileiros é retratado no projeto de Geraldo Azevedo finalmente lançado em CD e DVD pela gravadora Biscoito Fino. O persistente artista pernambucano assina a direção musical do registro áudio visual feito pela Terra Brasilis Filme, que pretende chamar atenção para o assoreamento que assombra o Velho Chico. A diretora Lara Velho intercala imagens de localidades banhadas pelo São Francisco e cenas de estúdio, criando um clima interiorano que perpassa a produção musical de Robertinho de Recife, alternando momentos de maior fluidez e outros em que o (único) tema navega por águas mais rasas – risco inerente a um projeto tão delimitado. Geraldo arregimentou artistas de variados estilos para interpretar as canções temáticas, algumas feitas especialmente para o projeto: de Djavan a Roberto Mendes, passando por Fernanda Takai e Maria Bethânia. A cantora que dedicou ao elemento água os discos ‘Pirata’ e...

A trilha sonora de Domenico Lancellotti

Primeiro disco solo de Domenico Lancellotti, ‘Cine privê’ (Coqueiro Verde Records) aposta em ambientações e barulhinhos para compor a trilha sonora de um filme imaginário. Cercado pelos parceiros de longa data Moreno Veloso (percussão) e Kassin (guitarra), com quem formou o trio +2 – além dos igualmente super requisitados Pedro Sá (guitarra) e Alberto Continentino (baixo) –, Domenico destila certa bossa ao cantar baixinho, num tom sussurrante, quase cool (alô Les Pops!). Gravadas em sessões ao vivo, as dez faixas que compõem o roteiro cinematográfico criado pelo compositor e baterista parecem induzir o ouvinte/espectador a criar as cenas descritas nas canções, em um processo que exige atentas audições. São muitos os detalhes, intervenções e, apesar do clima participativo que marca o álbum – e a carreira de Domenico –, ‘Cine privê’ é disco para se ouvir longe de qualquer burburinho. “Meus cinco sentidos só me deixam mais sozinho” constata ‘5 sentidos’ (Domenico Lancellotti/ Moreno Velo...

O samba romântico e alto astral de Leandro Sapucahy

“Malandro também ama” (EMI Music), avisa Leandro Sapucahy em seu terceiro disco como intérprete. Produtor tarimbado, responsável pelos bem-sucedidos álbuns de Arlindo Cruz (‘Sambista perfeito’, em 2007), Maria Rita (‘Samba meu’, em 2007) e Marcelo D2 (‘Canta Bezerra da Silva, no ano passado), Sapucahy coloca seu canto macio a serviço de um samba mais romântico, acertando quase sempre. ‘A que mais deixa saudade’ (Serginho Meriti), gravada por Alcione no CD ‘Faz uma loucura por mim’ (2004), abre os trabalhos de forma dolente. Compositor de seis faixas do disco, Meriti é autor do sucesso ‘Deixa a vida me levar’, gravado por Zeca Pagodinho, além de frequentar os mais recentes álbuns da citada Marrom. A bonita ‘Agradecendo a Deus (Vala comum)’ (Serginho Meriti/ Serginho Madureira/ Capri) inventaria os caminhos percorridos pelo sambista e valoriza suas escolhas em clima pra cima, longe de qualquer baixo-astral. Carioca nascido em Jacarepaguá, Leandro manda bem em ‘Não quero mais saber de na...

O requinte vocal do cinquentenário Trio Esperança

 Trio Esperança/Reprodução  Radicado na França, o Trio Esperança está de volta aos palcos cariocas celebrando 50 anos de carreira. Regina, Evinha e Mariza (atual formação) juntam-se ao irmão Mário Corrêa no show que fica em cartaz até sábado (09/04/2011) no Teatro Rival Petrobras. A história musical do grupo criado na esteira do sucesso dos Golden Boys proporcionou, na noite de estreia (07/04), uma verdadeira viagem pelos ritmos que marcaram a música popular brasileira a partir dos anos 60. ‘O passo do elefantinho’ (Baby elephant walk), ‘Filme triste’ (Sad movies), ‘A feiticeirinha’ (George girl) e ‘Ensinando Bossa Nova’ (Blame it on Bossa Nova), versões do início da carreira, assinalam a ingenuidade de uma parcela da produção musical do País prestes a descobrir o rock and roll dos Beatles e de Elvis Presley. Também é desta época ‘A festa do Bolinha’, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, que aproximou o trio vocal da Jovem Guarda. ‘Primavera’ (Cassiano/ Sílvio Rochael) e ‘Arrasta a...

O som irresistível do trio Les Pops

Há pouco mais de um ano, Rodrigo Bittencourt (voz e guitarra), Daniel Lopes (voz e guitarraxo) e Thiago Antunes (voz, acordeão, ukelele e banjo) vestiram uma ‘Camisa listrada’ (Assis Valente) e saíram por aí. Mas o som do trio (acompanhado pela bateria de Raphael Rapreto) passa longe da obviedade da Lapa sambista. O que o Les Pops faz é um ótimo pop rock recheado de referências e sarcasmo. Balada que intitula o CD lançado em janeiro deste ano, ‘Quero ser cool’ (Lopes/ Bittencourt), brinca com o ar blasé de certa parcela de habitantes da zona sul carioca – artistas incluídos. “Eu quero ser cool/ Mas não levo jeito”, despista Daniel. Nada mais bandeiroso – e cool – do que a própria negação do estilo. O ex-vocalista da banda Reverse também compôs ‘Aluguel em Abbey Road’, cuja letra zomba da famosa capa do disco lançado pelos Beatles em 1969: “Só sei que o LP catapultou/ o preço do aluguel em Abbey Road”, diz o refrão. Os versos contraditórios (“Eu quis te matar/ pode acreditar/ quando t...

Mariene de Castro mostra o que é que a baiana tem

Eclipsado pelo axé music, o tradicional samba de roda baiano norteia ‘Santo de Casa’, projeto da cantora Mariene de Castro registrado ao vivo no Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), no dia 15 de fevereiro de 2009, distribuído em fevereiro deste ano pela gravadora Universal Music. Em uma hora e meia de show, a cantora conjuga sambas, cocos, cirandas, maracatus, pontos de Candomblé e temas folclóricos. Imagens de santos católicos e orixás africanos, esteiras, altar no proscêncio e a réplica de uma casa de pau a pique no fundo do palco, compõem o rústico cenário onde Mariene revela o dengo que a nega tem: presença luminosa e voz quente que lembra a conterrânea Margareth Menezes, porém com mais doçura. O repertório afro-baiano é pontuado pelas composições de Roque Ferreira, que encontraram na voz da cantora interpretação adequada, ora buliçosa (‘Abre caminho’, ‘Chico e Chica’), ora devotada (‘Samba de terreiro’, ‘Vi mamãe da areia’). Autor recorrente nos recentes álbuns de Mari...

Ótimas conferências encerram o ciclo "Para ouvir uma canção"

A segunda etapa do ciclo de conferências sobre a canção popular brasileira “Para ouvir uma canção” (www.ouvircancao.blogspot.com) chegou ao fim nesta quinta-feira (31/03/2011) com a apresentação da professora, pesquisadora e escritora Cláudia Neiva de Matos. "A performance vocal e suas ressonâncias", foi o mote para que Cláudia observasse a importância de Ciro Monteiro (1913 - 1973) na renovação do samba e na criação de um estilo de interpretação que desembocou na bossa (nova) de João Gilberto. A pesquisadora ainda apontou para a interação de Ciro com novos compositores, como Geraldo Pereira e Wilson Batista, que estimulou a produção de sambas sincopados. Infelizmente o cantor ainda não mereceu o devido resgate histórico. Quem sabe o centenário de seu nascimento (em 2013) suscite o lançamento de alguns itens de sua discografia, praticamente inédita em CD. As canções inspiradas na Cidade Maravilhosa – talvez a musa mais cantada entre todas as cidades do mundo – foi o tem...