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Canção popular ganha ciclo de conferências

O jornalista e crítico musical Mauro Ferreira encerrou na sexta-feira, dia 25 de março, a primeira semana do ciclo de conferências sobre a canção popular brasileira “Para ouvir uma canção” (www.ouvircancao.blogspot.com). Com curadoria e coordenação de André Masseno e Tiago Barros as conferências acontecem na Caixa Cultural, no Rio de Janeiro, e reúnem sete pesquisadores da Música Popular Brasileira.
Autor do livro ‘História sexual da MPB’, biógrafo de Cauby Peixoto e de Claudette Soares, o jornalista e produtor musical Rodrigo Faour abriu a série com o tema “O sexo na MPB – A evolução do comportamento afetivo e sexual do brasileiro através dos tempos”. Com naturalidade e sem comprometimento com a turma politicamente correta, Rodrigo falou com desenvoltura sobre o comportamento sexual do brasileiro registrado em nossa canção popular. Citou ídolos que quebraram tabus, como Ney Matogrosso e, numa comparação controversa, relacionou o discutido funk carioca ao ancestral lundu. Faour constatou ainda, a caretice da cena musical contemporânea.
A canção polifônica” foi o tema apresentado pela professora do Departamento de Sociologia e Política da PUC - Rio, Santuza Cambraia Naves. Autora de diversos livros sobre a MPB, Santuza adotou a forma acadêmica para sua apresentação, lendo o texto produzido para o livro catálogo distribuído aos ouvintes/participantes. A intenção era “tentar entender, pelo viés da antropologia e da etnomusicologia, como se dá a interferência de vozes alheias na voz do cancionista. Ou seja, como ele traduz o que recebe dos companheiros do ofício”, afirmaram os curadores. Porém, como a própria conferencista reconheceu, faltou mais tempo para pesquisa e, apesar dos compositores citados – de Almirante e Dorival Caymmi a Evandro Mesquita e Grupo Rumo – o tema ficou pairando sem uma contextualização efetiva. Como se dá a polifonia nos anos 2000?
Outro que também optou pela leitura de seu próprio texto foi Gaspar Paz. Cantor, compositor e filósofo, Gaspar teve como tema “Interpretação e canção popular”, que por si só renderia um ciclo inteiro de palestras. No entanto, o conferencista evidenciou as obras de Lupicínio Rodrigues e de Paulo Leminski, dando enfoque curioso para uma insuspeita comicidade na obra do compositor gaúcho. O tema merecia análise mais ampla e menos acadêmica.
Finalmente, na sexta-feira, Mauro Ferreira falou com propriedade sobre a crítica musical em tempos de internet. Ressaltou a ética como instrumento principal da função de crítico e ilustrou sua apresentação com passagens interessantes, acumuladas em 25 anos de profissão. Esclarecedor, afirmou que as gravadoras ainda não estão em sintonia com a ágil rede mundial de computadores, responsável por profundas mudanças no mercado fonográfico.
Na primeira semana de "Para ouvir uma canção", destacaram-se os conferencistas que deixaram de lado o academicismo e falaram com paixão sobre um assunto apaixonante: a música popular brasileira. As conferências continuam a partir de amanha (29/03), quando o Coordenador de Estudos em Literatura e Música da PUC – Rio, ensaísta e escritor Júlio Cesar Valladão Diniz abordará o tema “A canção que carrega a memória”. O jornalista e escritor Marcelo Moutinho falará sobre ‘A canção popular e a cidade cartografada’, na quarta-feira (30/03). Encerrando o clico de palestras (31/03), a pesquisadora e escritora Cláudia Neiva de Matos comentará “A performance vocal e suas ressonâncias”.

Comentários

Helena Nascimento disse…
Júlio, Inicialmente, parabéns pelo texto. Concordo plenamente que nesse primeiro fechamento do ciclo de palestras, salvo foram os conferencistas que escolheram não ler os seus textos escritos especialmente para a palestra, fugindo assim, de qualquer teor academicista, tornando, assim, o debate mais claro, dinâmico e interativo, como assim fizeram o Rodrigo e o Mauro, onde em relação aos dois não há o que se comentar, pois foram exímios em seus assuntos. Agora em relação a Santuza, talvez sim tenha lhe faltado mais tempo para pesquisar o tema em questão, já que faltou dinamizar e explanar melhor a polifonia na música popular, sendo a polifonia muito utilizada na música erudita. Quanto a polifonia nos anos 2000, não consigo encontrar qualquer tipo de polifonia . Talvez como a própria Santuza falou que no funk carioca possa ser encontrado alguma forma de polifonia. Já o Gaspaz, achei que também poderia de fugido um pouco do academicismo e ter feito uma análise mais ampla, como bem foi colocado por você. Desculpe desde de já pelo enorme comentário, mas não há nada mais apaixonate e envolvente do que a música. Um forte abraço, Helena Nascimento

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