
Domingo, meio do feriadão, às vésperas do Dia das Crianças, parti com a sobrinha adolescente para o Vivo Rio, onde a banda Restart comandaria mais uma matinê, chamada “Happy Rock Sunday”. Eu, ela e milhares de meninas (em sua maioria) acompanhadas de seus responsáveis. Uma multidão de jovens multicoloridas, animadíssimas e agudíssimas – cujos gritos pareciam formar uma única e poderosa voz estridente a cada citação da banda durante o set comandado por um DJ convidado. A coisa ficou ainda mais intensa quando os quatro garotos entraram em cena: os camarotes da casa de espetáculos tremeram. Literalmente.
Criada em 2008, a banda formada por Pe Lu (voz e guitarra), Pe Lanza (voz e baixo), Koba (voz e guitarra) e Thominhas (bateria e sintetizador) vem incomodando muita gente do mainstream do pop-rock brasileiro – que o diga Dino Ouro Preto, vocalista da balzaquiana ‘Capital Inicial’, que andou soltando farpas, aborrecido com o sucesso dos meninos.
Vestindo roupas coloridas, muitas vezes em tons ofuscantes, os criadores do “happy rock” (como chamam o som feito pela banda) falam do cotidiano de muitos adolescentes como eles, todos na faixa dos 18 anos. As desilusões amorosas e o romantismo exacerbado estão lá, em letras como ‘Recomeçar’ (“Eu sei que assim talvez seja melhor/ Mas não espero ver você voltar/ E dizer que podemos recomeçar...”). Pueril? Sim, mas de acordo com aquela multidão de garotas apaixonadas por seus ídolos. E o que é melhor: longe da baixaria existente no funk, por exemplo.
Mostrando a força das fãs que gastaram suas digitais na votação feita através da internet, a banda foi a grande vencedora do ‘Vídeo Music Brasil’, ganhando nas cinco categorias a que foram indicados: ‘Revelação’, ‘Clipe’, ‘Clipe Pop’, ‘Hit’ (“Levo comigo”) e ‘Artista do Ano’ na 16ª edição da versão tupiniquim da premiação da MTV. O Prêmio Multishow de Música Brasileira rendeu mais um troféu: ‘Melhor Música’ (“Recomeçar”).
Não à toa, a rede mundial de informação é o principal meio de divulgação da banda: somente em 2009 a página oficial no MySpace recebeu mais de dois milhões de acessos. Os garotos também são usuários habituais do Twitter.
No show de domingo, olhos mais atentos, ou não apaixonados, percebiam certa canastrice nos gestos ensaiados dos rapazes, nas frases de efeito ditas para embevecer ainda mais uma platéia hipnotizada. Como se precisasse.
Na matinê com direito a refrigerante e cachorro-quente, nem mesmo o alto volume do som que abafava as vozes de Lu e Lanza foi motivo de descontentamento. Todas as músicas eram cantadas em uníssono.Vendo minha sobrinha se entreter ao som do Restart, pensei que muitos críticos e outros formadores de opinião (entre eles roqueiros com Síndrome de Peter Pan) necessitam urgentemente de boa dose de bom humor. Aqueles jovens estavam lá se divertindo – é óbvia a inconsistência das músicas, é claro que estão ganhando dinheiro (o que não é condenável), mas, ainda assim, estão longe da conotação sexual e da apologia às drogas existentes em outros sons que povoam as rádios brasileiras.
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