
Era uma vez a(s) cigarra(s) e a formiga. Enquanto as primeiras levavam a vida a cantar (algumas brilhantemente) a formiga estava sempre trabalhando, construindo. Maria Bethânia subverte a história original de Esopo no recital ‘Bethânia e as Palavras - Leituras’, no palco do Teatro Fashion Mall onde se apresenta de sexta a domingo, nesta e na próxima semana. Como uma operária com asas, ela sobrevoa os sonhos dos poetas, dos compositores e toca o sentimento dos espectadores ao declamar/cantar poemas e canções escolhidos para o espetáculo.
Acompanhada pelos músicos Luiz Brasil (violão) e Carlos César (percussão), Bethânia segue um roteiro feito com o auxílio de Hermano Vianna e direção Elias Andreatto. A pré-estreia aconteceu nesta quinta-feira, dois de setembro, para convidados, jornalistas e alunos de colégios públicos cariocas. O projeto começou em Minas, no ano passado, quando a cantora foi convidada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para participar do ciclo de conferências ‘Sentimentos do Mundo’. Outras leituras foram feitas na Casa do Saber e na Pontifícia Universidade Católica (PUC), no Rio de Janeiro e no Itamaraty, em Brasília, no ‘Encontro Mundial dos Países de Língua Portuguesa’. Bethânia se apresentou na Casa Fernando Pessoa, em Portugal, onde recebeu a ‘Ordem do Desassossego’ por ser, no Brasil, uma das maiores divulgadoras do legado de Fernando Pessoa.
Apesar de certo estranhamento no início quando as palavras pareciam querer atropelar a intérprete, o recital de aproximadamente 1h10 acaba arrebatando a platéia graças à força que a artista coloca no que diz e nos trechos de canções que marcam determinados momentos da leitura. Muitos deles acompanham a intérprete ao longo de sua carreira e estão gravados na memória afetiva dos fãs. Momentos sublimes como ‘O poema do Menino Jesus’, de Alberto Caieiro, que ela inseriu no histórico show ‘Rosa dos Ventos’ (1971) e em ‘Maricotinha’ (2001).
Bethânia costura trechos de livros, poemas e músicas em 69 números no recital que quase sempre se mantém alto, principalmente quando toca na obra de Fernando Pessoa e seus heterônimos. A tensão estabelecida afrouxa quando da leitura de um trecho (talvez longo demais) de ‘Grandes Sertões: Veredas’, de Guimarães Rosa. Em outro momento os poemas de Cacaso, Fausto Fawcett e Paulo Liminski destoam do universo criado/escolhido, pois suas poesias são urbanas demais para um clima tão interiorano.
Nesta espécie de ‘Brasileirinho’ literário, a filha de Santo Amaro da Purificação ressalta o valor do que aprendeu com seus mestres, como o professor Nestor de Oliveira que ensinou a ela e ao irmão, Caetano Veloso, a ler/ouvir poesia. Ela acredita que somente a educação possa mudar o destino de uma pessoa, de um povo, de um país. Apesar da maneira contundente, intensa, com que realça as palavras e cada sentimento que (re)descobre nelas, passa ao largo do discurso panfletário.
Quando apresenta um espetáculo como este, em que a palavra dita é costurada pela palavra cantada, invertendo o roteiro de seus shows Bethânia cria para si um posto único na história cultural do País. Eleita por certos segmentos da mídia como “rainha”, numa categoria onde se inclui a atriz Fernanda Montenegro, a artista foge do distanciamento inerente à realeza, não se deixando seduzir pelo brilho dos elogios fáceis (falsos), mantendo sempre os pés no chão, ainda que em alguns momentos pareça flutuar.
Acompanhada pelos músicos Luiz Brasil (violão) e Carlos César (percussão), Bethânia segue um roteiro feito com o auxílio de Hermano Vianna e direção Elias Andreatto. A pré-estreia aconteceu nesta quinta-feira, dois de setembro, para convidados, jornalistas e alunos de colégios públicos cariocas. O projeto começou em Minas, no ano passado, quando a cantora foi convidada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para participar do ciclo de conferências ‘Sentimentos do Mundo’. Outras leituras foram feitas na Casa do Saber e na Pontifícia Universidade Católica (PUC), no Rio de Janeiro e no Itamaraty, em Brasília, no ‘Encontro Mundial dos Países de Língua Portuguesa’. Bethânia se apresentou na Casa Fernando Pessoa, em Portugal, onde recebeu a ‘Ordem do Desassossego’ por ser, no Brasil, uma das maiores divulgadoras do legado de Fernando Pessoa.
Apesar de certo estranhamento no início quando as palavras pareciam querer atropelar a intérprete, o recital de aproximadamente 1h10 acaba arrebatando a platéia graças à força que a artista coloca no que diz e nos trechos de canções que marcam determinados momentos da leitura. Muitos deles acompanham a intérprete ao longo de sua carreira e estão gravados na memória afetiva dos fãs. Momentos sublimes como ‘O poema do Menino Jesus’, de Alberto Caieiro, que ela inseriu no histórico show ‘Rosa dos Ventos’ (1971) e em ‘Maricotinha’ (2001).
Bethânia costura trechos de livros, poemas e músicas em 69 números no recital que quase sempre se mantém alto, principalmente quando toca na obra de Fernando Pessoa e seus heterônimos. A tensão estabelecida afrouxa quando da leitura de um trecho (talvez longo demais) de ‘Grandes Sertões: Veredas’, de Guimarães Rosa. Em outro momento os poemas de Cacaso, Fausto Fawcett e Paulo Liminski destoam do universo criado/escolhido, pois suas poesias são urbanas demais para um clima tão interiorano.
Nesta espécie de ‘Brasileirinho’ literário, a filha de Santo Amaro da Purificação ressalta o valor do que aprendeu com seus mestres, como o professor Nestor de Oliveira que ensinou a ela e ao irmão, Caetano Veloso, a ler/ouvir poesia. Ela acredita que somente a educação possa mudar o destino de uma pessoa, de um povo, de um país. Apesar da maneira contundente, intensa, com que realça as palavras e cada sentimento que (re)descobre nelas, passa ao largo do discurso panfletário.
Quando apresenta um espetáculo como este, em que a palavra dita é costurada pela palavra cantada, invertendo o roteiro de seus shows Bethânia cria para si um posto único na história cultural do País. Eleita por certos segmentos da mídia como “rainha”, numa categoria onde se inclui a atriz Fernanda Montenegro, a artista foge do distanciamento inerente à realeza, não se deixando seduzir pelo brilho dos elogios fáceis (falsos), mantendo sempre os pés no chão, ainda que em alguns momentos pareça flutuar.
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