
‘Nós somos cada vez mais nós mesmos. Um pouco mais calvos e pelancudos, mas continuamos sendo os Paralamas”, brinca Herbert Vianna sobre o trio formado por ele, Bi Ribeiro e João Barone há 26 anos.Essa identidade da banda pode ser conferida no novo CD ‘Brasil Afora’ — trabalho onde os músicos retomam a alegria e muito da mistura de ritmos que marcaram a carreira do grupo.
Gravado no estúdio de Carlinhos Brown, em Salvador, o alegre ‘Brasil Afora’ contrasta com CDs como ‘Longo Caminho’ e ‘Hoje’, lançados após o acidente de ultraleve sofrido por Herbert em 2001. “Eram mais soturnos, densos e davam a impressão de que estávamos nos debatendo ainda”, diz Barone.
A primeira música, ‘A lhe Esperar’ (Liminha e Arnaldo Antunes), lançada há um mês, está entre as mais tocadas nas rádios. “Achamos muito legal, já abrimos mão de escolher a música de trabalho. Muitas vezes fizemos questão: ‘Cagaço’ (de 1994), por exemplo, foi um fracasso, mas a gente queria que fosse aquela música”, diverte-se o baixista Bi.
Um clima de romance (ideal) está nas ‘Meu Sonho’, ‘El Amor’ e ‘Tão Bela’ — que encerra o disco afirmando que o amor faz a vida melhorar. “O amor pelos seus valores, pela família, amigos, natureza. Da mulher que perdeu seu filho à torcida em um jogo de futebol, tudo isso pode virar o planeta pelo avesso”, diz Herbert.
Em ‘Mormaço’ o músico, nascido em João Pessoa, fala sobre a terra natal. “Meus filhos têm nacionalidade britânica, mas outro dia minha filha do meio me acordou e disse: ‘Vamos menos para a Inglaterra e mais para a Paraíba. Onde vamos encontrar um caranguejo tão gostoso como o de lá?’”, lembra.
A canção, que tem a participação especial de Zé Ramalho, mistura sutilmente a beira da praia e o desamparo nordestinos (“Está lá ao deus-dará”). E provoca comentários dos músicos que, em 1995, cantavam ‘Luiz Inácio (300 picaretas)’ e não bisaram o voto em Lula em 2006. “A miséria ainda existe, é real. Cada vez mais vemos essa discrepância: quem é rico está cada vez mais rico”, diz Barone.
O baterista acha que a população está sempre à espera de um salvador, ‘um novo Getúlio Vargas’. “Se voto fosse bom não seria obrigatório. Vota-se por um pedaço de pão, por um cheque-cidadão”, critica. Bi Ribeiro vai além: “O Lula está aí de novo por causa do assistencialismo. Pelé foi escorraçado quando disse que brasileiro não sabia votar, mas é verdade”. Palavras de quem, há mais de duas décadas, se aventura por esse Brasil afora.
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