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O padre galã*


Se o Papa é pop, a música católica embala cada vez mais consumidores, não importando sua fé. Na cola do sucesso de padre Fábio, artistas religiosos vão do rock à axé-music. Cantoras como Celina Borges e Adriana são veneradas e já ganham até o público internacional.
O fenômeno padre Fábio de Melo não pára de crescer. Depois de vender mais de 600 mil cópias do recente CD, ‘Vida’ — seus 11 discos ultrapassaram 1,2 milhão de cópias — e gravar seu primeiro DVD, ‘Eu e o Tempo’, em um Canecão lotado de fiéis, em janeiro, ele chegará ao horário nobre da casa de shows. Para o lançamento do DVD, em abril, serão quatro apresentações, de quinta a domingo. “Também emplacamos a música ‘Vida’ (regravação de Fábio Jr.) na trilha sonora da próxima novela das sete, ‘Caras e Bocas’”, antecipa o produtor Líber Gadelha, presidente da gravadora LGK Music. “O que diferencia padre Fábio dos outros é seu discurso mais jovial. Não é revolucionário, mas fala a língua dos jovens. E canta”, diz Líber Gadelha.
Padre Fábio dá fôlego novo a um filão resgatado por padre Marcelo Rossi, que em 1998 vendeu impressionantes 3.328.468 cópias de seu CD de estréia — marca ainda não superada. Foi aí que a música católica passou a ser vista (ouvida?) com outros olhos (ouvidos?).
O gênero, iniciado nos anos 60 com a Renovação Católica Carismática, chegava com força total à mídia secular, como é chamado o mercado não-religioso.“Nosso público abrange também evangélicos e não-religiosos. Muita gente se cansou de músicas vazias, tem sede de Deus e buscam conteúdo”, diz Rogério Feltrin, baterista da banda de rock Rosa de Saron, cujo último CD/DVD Acústico, tem a participação do ator Rafael Almeida em uma das faixas e é sucesso entre os jovens.
“Os católicos estão com mais conteúdo do que a música popular secular”, concorda Líber, que trabalhou com Zizi Possi e Luiz Melodia, entre outros. A qualidade das produções também chama atenção, músicos consagrados como Jorge Élder, Jurim Moreira e Julinho Teixeira tocaram no disco do padre Fábio.
A cantora Celina Borges é categórica: “Uma das minhas marcas é contratar profissionais qualificados, gente que já tocou com Djavan e Ana Carolina, por exemplo”. Com 20 anos de carreira, sete CDs gravados (460 mil cópias vendidas), Celina, que participou do DVD de padre Fábio, já se apresentou nos Estados Unidos, Portugal e Itália. A mineira Adriana também prega a qualidade. “Nosso show é uma mistura de louvor, pregação e música bem feita”, diz a cantora que lançou cinco CDs (400 mil cópias vendidas). O céu dos católicos tem, cada vez mais, estrelas.

Musa do Axé

Fenômeno da ‘axé-music católica’ com a música ‘Pó Para Com Pó’, Jacquelinne Michelly Santos da Silva, a Jake, tem 29 anos e, apesar do sotaque baiano, nasceu em São Paulo. É cantora católica desde os 13 anos e lançou seu primeiro CD, ‘Jake — Guerreira do Amor’, há dois anos. O sucesso só veio quando uma de suas apresentações foi parar no YouTube, onde já foi visto por mais de 500 mil pessoas. A consagração aconteceu no CarNatal, quando Ivete Sangalo convidou Jake para cantar a música que promete ser o sucesso do Carnaval baiano.

*Publicado no jornal O Dia.

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