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Roqueiros de Família


“Eu procuro estar por dentro,doutor/ Dessa nova geração/ Mas minha filha/ Não me leva a sério, doutor/ Ela fica cheia de mistério/ com esse tal de Roque Enrow!” Muita coisa mudou desde que Rita Lee cantava, debochada, os problemas da mãe de uma adolescente fã do velho e desregrado rock’n’roll, na distante década de 70. No novo século, os roqueiros mais queridos do País são politicamente corretos, ainda moram com os pais e atendem por carinhosos apelidos.
Formada por Diego José Ferrero, o vocalista Di, 23 anos; Leandro Franco da Rocha, o guitarrista Gee,21; Filipe Duarte Pereira Ricardo,o guitarrista Fi, 21; Conrado Lancerotti Grandino, o baixista Caco,22; e Daniel Weksler, o baterista Dani, 22, a banda NX Zero é um fenômeno do pop-rock tupiniquim e arrebanha uma legião de crianças e adolescentes por onde passa.
Grandes vencedores do Vídeo Music Brasil 2008, a premiação do canal MTV realizada no dia 2 de outubro, os rapazes levaram os troféus de ‘Hit do Ano’ e ‘Video Clip (os dois por ‘Pela Última Vez’) e ‘Artista do Ano’. Assim como atrai admiradores ferrenhos, o NX Zero também tem críticos ferozes que os rotulam de emo — um gênero musical derivado do hardcore, com seguidores de longas franjas, piercings e que, por serem emotivos, dão sempre a impressão de que vão derramar uma lágrima a qualquer momento.
O rótulo levou Di a um desabafo na noite do VMB, quando gritou “Emo é o c*!”. Ele explica sua reação: “Não temos nada desse rótulo, não gostamos e achamos banal. Tem gente que quer nos constranger, nos colocar pra baixo. Então, por causa do preconceito que sofremos no começo, saiu. Foi uma espécie de ‘ufa, chegamos aqui!’”.
Gee faz coro: “De onde viemos, do underground, o emo já existia, mas hoje virou uma parada mais visual mesmo. Não queremos um público só, a gente respeita os caras, mas chega dessa história. Tem uma molecada que ouve nosso som, mas diz que não é bom porque os emos nos curtem. Maior preconceito, besteira mesmo”.
Foi na noite paulistana que os garotos ralaram antes da fama. “Tocamos em lugares toscos, com som ruim, para 15 pessoas”, lembra Di. Essas apresentações fortaleceram a amizade. “A banda tem oito anos, essa formação tem quatro, mas nos conhecemos desde os 16, 17 anos, todo mundo já tocava e se esbarrava por aí. Viramos brothers quando formamos o NX”, conta Dani.
Com três discos gravados e um DVD (‘62 Mil Horas Até Aqui”), o sucesso veio mesmo com as canções ‘Razões e Emoções’, ‘Pela Última Vez’ e ‘Cedo ou Tarde’. “Quando lançamos ‘Razões e Emoções’ nas rádios, pegamos o público em geral. Mostramos que estamos aí para tocar qualquer estilo”, empolgase Gee. Há três anos, a banda foi contrada pelo selo Arsenal Music, distribuído pela gravadora Universal Music, e hoj e vê seu trabalho se espalhar pelas rádios. Só no eixo Rio-São Paulo, ‘Pela Última Vez’ foi tocada 2.464 vezes este ano. ‘Cedo ou Tarde’ está em primeiro lugar no segmento há cinco semanas nas rádios cariocas.
Os garotos de família não se incomodam com a fama de bons moços que, volta e meia, é reforçada por algum detrator. Para eles o velho trinômio ‘sexo, drogas e rock’n’ roll’ é coisa do passado. “Quem se preocupa com isso são os ríticos, não temos vergonha de mostrarmos como realmente somos, são épocas diferentes. A Amy (Winehouse) ‘causa’ muito, gostamos do som dela, mas nos preocupamos com nossos fãs”, diz o solteiro Di, que não abandonou por completo o ‘lar-doce-lar’. “Tenho meu canto, mas moro com meus pais. O melhor é ter meu pai e minha mãe sempre por perto, para me darem bronca se for preciso, me colocarem no lugar”.
Namorado da roqueira Pitty há dois anos, Dani só tem olhos para sua musa. “Seria mais difícil se ela não fosse desse rolê também. Uma menina comum vai sempre achar estranho o namorado estar ausente nos fins de semana”, avalia, antes de declarar, apaixonado: “Quando conseguimos folga em nossas agendas ficamos o dia inteiro na cama, levantamos para um café e corremos de volta”.
A Internet tem papel de destaque na conquista da popularidade. Somente no Orkut existem mais de mil comunidades dedicadas à banda (a maior tem 422.019 membros), que mantém atualizados o site oficial, fotolog e página no portal MySpace. “Entro sempre, deixo recado, participo de chat, faz parte da minha rotina. Eu me preocupo com as ‘paradas’ da banda. Antes a Internet era o único lugar que tínhamos para divulgar nosso som”, lembra Di.
De olho na audiência, as produções dos programas de TV estão sempre convidando a banda. Da MTV ao Raul Gil. “Não tem muita diferença, só tomamos um pouco de cuidado com o que falamos. Já tocamos no Faustão, na Hebe, na Ana Maria Braga”, lista o vocalista. “As velhinhas pegando receita de bolo e a gente mandando ver. Onde der para a gente tocar, está ótimo".
A exposição faz o assédio aumentar. “Ultimamente tem ‘embaçado’, tomou uma proporção que não esperávamos. Se levo minha avó ao geriatra tem gente querendo tirar foto no consultório por causa dos filhos, dos netos”, constata Di. Para o baterista da banda, a aproximaçãoé normal. “Somos conhecidos pela nossa tranqüilidade, damos valor a pequenas atitudes. É uma questão de manter a banda sempre próxima dos fãs”. Mas o contato tem causado alguns danos.
“Algumas meninas são sem noção mesmo, tentam de qualquer jeito tirar alguma lembrança de você, às vezes saio arranhado, mas acho do c*”, diverte-se Gee. Os fãs costumam ir aos shows em outras cidades. “Fui para o Rio Grande do Sul sozinha e para Minas também”, orgulha-se Ana Gomes, 18. Os rapazes se preocupam com as tietes.
“Procuramos conversar, trocar idéias, perguntamos se os pais sabem que eles estão ali, porque muitos deles, sem dinheiro, acabam dormindo na calçada em frente aos hotéis”.
Tamanho cuidado derrete o coração de mães como Net Fernandes, que acompanha a filha, Louise, 15, nos encontros e shows. “Quero um genro igual ao Gee”, diz. Aos 40 anos, ela também já teve seu tempo de suspiros e coração acelerado. “Era fã do Menudo, fugi de casa para assistir a um show deles. Passei um mês de castigo, mas feliz da vida”, ri.

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