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Menina Bonita*

O jeito de menina continua intacto, mas em poucos minutos de conversa, percebe-se que Luiza Possi mudou. Em cartaz no Centro Cultural Carioca, na Praça Tiradentes, todas as quartas-feiras deste mês, com o show ‘A Vida é Mesmo Agora’, a cantora se aproxima da MPB, se diverte com as cobranças em relação à mãe famosa, Zizi Possi (“Tenho o maior orgulho dela”), e descobre o Rio, cidade em que nasceu mas de onde saiu ainda criança, para morar em São Paulo.
"Estou fazendo o que sempre quis. Era muito nova quando lancei meu primeiro disco (‘Eu Sou Assim’, em 2002), não tinha voz nem experiência para cantar o que canto agora”, avalia, aos 24 anos. A carreira começou precocemente por incentivo do pai, o produtor musical Líber Gadelha. A mãe achava que ela deveria esperar mais. “Mas eu sabia que cantava e não costumo fechar portas sem ao menos tentar”.
No show, Luiza brinca com o fato de ser filha de uma das melhores cantoras do País, lembrada por sua técnica e afinação perfeitas. “Hoje tiro de letra, levo para o lado do humor. As pessoas não entendem que ela é minha mãe, não minha irmã siamesa. Não estamos juntas o tempo todo”, diverte-se.
A cantora saiu de São Paulo há três anos, quando gravou ‘Escuta’, seu terceiro CD, produzido pelo pai, que se recuperava de problemas de saúde. “Tinha bons motivos: gravar um novo disco, morar no lugar que eu queria e namorar o cara que eu queria”.O cara em questão é o ator Pedro Neschling, filho de Lucélia Santos e do maestro John Neschling. Pedro dirige o show e opera a luz. “Trabalhamos com arte. Quando conseguimos juntar os talentos é maravilhoso”, conta.
Luiza ainda pode se perder no caminho entre sua casa e a Praça Tiradentes. “É estranho porque não moro no Rio, moro na Barra”, brinca, antes de declarar seu amor ao bairro. “Para quem sempre viveu em São Paulo, não é tão difícil se acostumar”. A carioca quer alavancar sua carreira no Rio. “É, estou investindo pesado. Precisava colocar essa energia aqui para fincar os dois pés na Cidade Maravilhosa”. Nos dias de folga, Luiza encontra tempo para malhar, fazer balé, tocar piano e compor “industrialmente” com o novo parceiro, Dudu Falcão. “Estou empolgada, já penso num próximo disco mais autoral”, adianta.

Telefonema para Chico
Compositor ligado à carreira de Zizi Possi desde o início, Chico Buarque está presente no show de Luiza em dois momentos. Além de ‘Folhetim’’, que entrou na trilha de ‘Duas Caras’ (“Gal imortalizou essa música. Eu não queria gravar, mas acabou sendo um sucesso”), a cantora surpreende em ‘Tango de Nancy’, da peça ‘O Corsário do Rei’. “Tomei coragem e deixei um recado na secretária dele. Queria uma música inédita e sacana. Inédita não tinha, mas Chico sugeriu o ‘Tango’ e eu amei”. Também estão no repertório ‘O Amor Vem Pra Cada Um’— sucesso da fase popular de Zizi — e ‘Proud Mary’, clássico da banda americana Creedence Clearwater Revival. “Cantei essa música num festival em Vitória da Conquista, no mês passado, para 15 mil pessoas, e foi uma loucura”.

* Publicado no jornal O Dia.

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