Pular para o conteúdo principal

Os Amores de Zeca

Depois de recriar, com sucesso, o clima das noites cariocas dos anos 40 e 50, Zeca Pagodinho aposta em inéditas em seu novo disco, ‘Uma Prova de Amor’, que sai no fim do mês. O clima das gravações do sambista mais popular do País foi marcado por muita emoção.
O CD é dedicado à amiga Regina Casé, como noticiou o colunista de O DIA Bruno Astuto. A atriz foi presença constante nos estúdios. “Ela cantou versos de ‘Uma Prova de Amor’ para o pai (o diretor Geraldo Casé, morto em julho), quando ele estava internado, e ele gostou. Pensamos em mandar a música, mas infelizmente não deu tempo”, conta Rildo Hora, produtor de Zeca há 14 anos.
Toninho Geraes, parceiro de Nelson Rufino na música que dá nome ao CD, já tinha mostrado ‘Uma Prova de Amor’ para Zeca. “Lembrei essa história, em seu aniversário, e ele respondeu: ‘Então você cantou mal. Se tivesse cantado bem, eu já teria gravado”, ri o compositor.Marcos Diniz, Luiz Grande e Barbeirinho do Jacarezinho — devidamente batizados de ‘Trio Calafrio’ por Zeca — são os autores da faixa ‘Sincopado e Ensaboado’.
“Ele tem uma ligação muito forte com o povo. Você chega a uma favela e pode até não ter arroz e feijão, mas sempre tem um CD do Zeca, nem que seja um pirata”, diz Marcos. Arlindo Cruz, outro parceiro fiel, também está presente. “Fizemos ‘Sempre Atrapalhado’, para o Didu (Fabrício Boliveira) da novela ‘A Favorita’, e ‘Se Eu Pedir Pra Você Cantar”, adianta.
Das 15 faixas de ‘Uma Prova de Amor’, duas são regravações, não por acaso ligadas à Portela, escola do coração de Zeca. A Velha Guarda está presente no pot-pourri formado por ‘Manhã Brasileira’, ‘Pecadora’ e ‘Falsa Jura’. “O disco está impregnado de amor pela Portela”, revela Rildo Hora.
Amor provado na faixa ‘Esta Melodia’ (Jamelão/ Bubu da Portela), já cantada por Zeca no documentário sobre a Velha Guarda, ‘O Mistério do Samba’, e em ‘Não Há Mais Jeito’, inédita de Monarco e Mauro Diniz. “Monarco é um lutador e defensor do samba e da Portela”, elogia Pagodinho.
Jorge Ben Jor participa de ‘Ogum’ (Marquinhos PQD/ Claudemir). “Admiro muito o trabalho dele. A parceria surgiu pela nossa devoção a São Jorge. Ele queria que no final eu falasse a Oração de São Jorge”, diz Ben Jor. A emoção tomou conta do estúdio no encontro dos ‘cavaleiros’. “Foi indescritível, os dois com suas guias, concentrados. Jorge Ben gravou de primeira”, lembra Rildo. De arrepiar.


"Uma Prova de Amor"


Manda que eu faço chover...
Pede que eu mando parar...
Manda que eu faço de tudo meu amor pra te agradar...
Manda que eu faço chover...
Pede que eu mando parar...
Manda que eu faço de tudo só pra não te ver chorar...
Uma prova de amor...
Uma prova de amor eu dou se você quiser...
Uma prova de amor eu dou se preciso for...
Uma prova de amor eu dou quem sabe assim...
Você vê todo o bem que tem dentro de mim
Uma prova de amor pra ver sua razão, e aprender se curvar pro coração
Faço tudo pra ter você...
Faço tudo pra ter você por perto...
Faço tudo pra ser merecedor...
Eu tiro até água do deserto
O meu coração está tão certo
Que vai ser o dono desse amor...
Meu amor...
Existia um vazio em minha vida...
Existia a tristeza em meu olhar...
Eu era uma folha solta ao vento
Sem vida, sem cor, sem sentimento
Até seu perfume me alcançar

Comentários

Bode disse…
Muito boa essa..

Postagens mais visitadas deste blog

Joias musicais de Gilberto Gil são reeditadas

               A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital.             Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...

50 anos de Claridade

Clara Nunes (1942 – 1983) viu sua carreira deslanchar na década de 1970, quando trocou os boleros e um romantismo acentuado pela cadência bonita do samba, uma mudança idealizada pelo radialista e produtor musical Adelzon Alves. Depois do sucesso do LP ‘Alvorecer’, de 1974, impulsionado pelas faixas ‘Menino deus’ (Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro), ‘Alvorecer’ (Délcio Carvalho/ Ivone Lara) e ‘Conto de areia’ (Romildo/ Toninho Nascimento), a cantora mineira reafirmou sua consagração popular com o álbum ‘Claridade’. Lançado em 1975, este disco vendeu 600 mil cópias, um feito excepcional para um disco de samba, para uma cantora e, sobretudo, para um disco de samba de uma cantora. Traço marcante na trajetória artística e na vida de Clara Nunes, o sincretismo religioso está presente nas faixas ‘O mar serenou’ (Candeia) e ‘A deusa dos orixás’, do pernambucano Romildo e do paraense Toninho Nascimento, os mesmos autores de ‘Conto de areia’. Eles frequentavam o célebre programa no qual Adelzon...

Galeria do Amor 50 anos – Timóteo fora do armário (ou quase)

            Agnaldo Timóteo lançou o disco ‘Galeria do amor’ em 1975. Em pleno regime militar, o ídolo popular, conhecido por sua voz grandiloquente e seu temperamento explosivo, ousou ao compor e cantar a balada sobre “um lugar de emoções diferentes/ Onde a gente que é gente/ Se entende/ Onde pode se amar livremente”. A canção, que se tornaria um sucesso nacional, foi inspirada na famosa Galeria Alaska, antigo ponto de encontro dos homossexuais na Zona Sul carioca – o que passaria despercebido por boa parte de seu público conservador. O mineiro de Caratinga já havia suscitado a temática gay no disco ‘Obrigado, querida’, de 1967. A romântica ‘Meu grito’, feita por Roberto Carlos para a sua futura mulher, Nice, ganhou outras conotações na voz poderosa de Timóteo. “Ai que vontade de gritar seu nome, bem alto no infinito (...), só falo bem baixinho e não conto pra ninguém/ pra ninguém saber seu nome, eu grito só ‘meu bem'”, canta Agnaldo, que nunca assu...