
O Theatro Municipal ganhou ares de templo budista quando, com exatos 55 minutos de atraso, João Gilberto iniciou show pelos 50 anos da Bossa Nova, na noite de domingo. Depois de Caetano Veloso e Roberto Carlos — que fizeram apresentação emocionante sexta-feira — foi a vez de o mestre baiano arrebatar a todos com técnica, talento e simpatia.
A expectativa era grande, antes da apresentação. “Estou há mais de um mês pensando nisso. Olhar ele tocando, ouvir o que ele toca”, disse o eterno discípulo Caetano Veloso. “Nunca assisti a um show dele, estou feliz da vida. João é mestre em escolher repertório, sempre cantou as melhores coisas da MPB”, afirmou a novata Roberta Sá.
E assim foi. João desfiou um rosário de clássicos da música popular brasileira para uma platéia hipnotizada e reverente. Parecia que até a respiração dos presentes estava suspensa, quando se ouviu os acordes de ‘Você Já Foi à Bahia?’, primeira das três canções de Dorival Caymmi escolhidas por João para abrir o espetáculo (as outras foram ‘Doralice’ e ‘Rosa Morena’).
Cantando (mais) baixo, no gigantesco palco do Municipal, João fazia com que as pessoas permanecessem em silêncio — só assim se podia ouvi-lo em determinados versos. O andamento de ‘Meditação’, primeiro clássico de Tom Jobim na noite, era mudado em cada repetição, ora mais lento, ora um pouco mais acelerado. Hipnotizante. Os aplausos sempre começavam tímidos como se o público tivesse medo de aborrecê-lo.
Como num mantra, João repetiu cinco vezes os versos de ‘Samba do Avião’ e sorria, parecendo satisfeito, a cada volta na melodia. A cidade continuou presente no medley que juntou ‘Hino ao Sol’ e ‘O Mar’ — músicas da ‘Sinfonia do Rio de Janeiro’, composta por Tom Jobim e Billy Blanco, em 1954. Os versos consagrados de ‘Lígia’ foram trocados por outros mais tristes, cantados apenas por ele (“Fatalmente eu iria sofrer tanta dor, pra no fim te perder”).
O silêncio reverente continuou durante ‘Disse Alguém’, ‘Corcovado’ e ‘Chove Lá Fora’ (e chovia mesmo, muito). Mesmo diante de clássicos mais populares como ‘Wave’ e ‘Desafinado’, ninguém ousava acompanhar o baiano. Em ‘Isto Aqui o Que É?’, mais uma aula de interpretação. Bastava fechar os olhos para ver a ‘morena boa’, dos versos de Ary Barroso, gingando enquanto João cantava: ‘Olha o jeito nas cadeiras que ela sabe dar, olha só o remelexo que ela sabe dar’.
Deixou o palco aplaudido de pé e voltou para inesquecíveis 30 minutos de ‘bis’, quando o improvável aconteceu. Não resistindo mais, o público resolveu ousar e acompanhou o mestre em ‘Chega de Saudade’ num quase murmúrio respeitoso. “Gostei muito desse sussurrinho que ouvi ainda agora, vamos de novo?”, disse João para delírio geral. O músico voltou a tocar o clássico jobiniano, acompanhado por um coro em estado de graça. “Não quero mais ir embora”, brincou, para depois cantar ‘Garota de Ipanema’ e ‘O Pato’, acompanhado pelo público, é claro. Depois de 14 anos sem se apresentar no Rio, João matou a saudade e deixou um gosto de quero mais.
No final do show, os artistas que compareceram em peso ao Municipal pareciam inebriados. “João é o núcleo de tudo. E hoje foi sensacional, pediu para todo mundo cantar junto. Ele dá sempre um jeito de driblar o inesperado”, disse Caetano, acompanhado pela ex-mulher, Paula Lavigne, e pelos filhos Zeca e Tom. O primogênito Moreno Veloso também estava lá.
Camila Pitanga, modelo que aparece na capa do CD ‘João Voz e Violão’, lançado em 2000, era só sorrisos. “Não o conheci pessoalmente na época, mas vê-lo ao vivo foi maravilhoso, esse show vai ressoar na minha cabeça ainda por toda a semana”. E na cabeça de Mariana Ximenes também. “Foi arrebatador, a gente sai feliz da vida!”, afirmou a atriz que assistiu a um show do baiano pela primeira vez, assim como os repórteres de O DIA. “Participamos juntos desse momento histórico”.
É verdade, Mariana. Nós e Regina Casé, Carolina Dieckmann, Moraes Moreira, Gilberto Gil, Adriana Calcanhotto, Carlinhos Brown, Marieta Severo e os sortudos que conseguiram comprar os ingressos esgotados em apenas três horas.
A expectativa era grande, antes da apresentação. “Estou há mais de um mês pensando nisso. Olhar ele tocando, ouvir o que ele toca”, disse o eterno discípulo Caetano Veloso. “Nunca assisti a um show dele, estou feliz da vida. João é mestre em escolher repertório, sempre cantou as melhores coisas da MPB”, afirmou a novata Roberta Sá.
E assim foi. João desfiou um rosário de clássicos da música popular brasileira para uma platéia hipnotizada e reverente. Parecia que até a respiração dos presentes estava suspensa, quando se ouviu os acordes de ‘Você Já Foi à Bahia?’, primeira das três canções de Dorival Caymmi escolhidas por João para abrir o espetáculo (as outras foram ‘Doralice’ e ‘Rosa Morena’).
Cantando (mais) baixo, no gigantesco palco do Municipal, João fazia com que as pessoas permanecessem em silêncio — só assim se podia ouvi-lo em determinados versos. O andamento de ‘Meditação’, primeiro clássico de Tom Jobim na noite, era mudado em cada repetição, ora mais lento, ora um pouco mais acelerado. Hipnotizante. Os aplausos sempre começavam tímidos como se o público tivesse medo de aborrecê-lo.
Como num mantra, João repetiu cinco vezes os versos de ‘Samba do Avião’ e sorria, parecendo satisfeito, a cada volta na melodia. A cidade continuou presente no medley que juntou ‘Hino ao Sol’ e ‘O Mar’ — músicas da ‘Sinfonia do Rio de Janeiro’, composta por Tom Jobim e Billy Blanco, em 1954. Os versos consagrados de ‘Lígia’ foram trocados por outros mais tristes, cantados apenas por ele (“Fatalmente eu iria sofrer tanta dor, pra no fim te perder”).
O silêncio reverente continuou durante ‘Disse Alguém’, ‘Corcovado’ e ‘Chove Lá Fora’ (e chovia mesmo, muito). Mesmo diante de clássicos mais populares como ‘Wave’ e ‘Desafinado’, ninguém ousava acompanhar o baiano. Em ‘Isto Aqui o Que É?’, mais uma aula de interpretação. Bastava fechar os olhos para ver a ‘morena boa’, dos versos de Ary Barroso, gingando enquanto João cantava: ‘Olha o jeito nas cadeiras que ela sabe dar, olha só o remelexo que ela sabe dar’.
Deixou o palco aplaudido de pé e voltou para inesquecíveis 30 minutos de ‘bis’, quando o improvável aconteceu. Não resistindo mais, o público resolveu ousar e acompanhou o mestre em ‘Chega de Saudade’ num quase murmúrio respeitoso. “Gostei muito desse sussurrinho que ouvi ainda agora, vamos de novo?”, disse João para delírio geral. O músico voltou a tocar o clássico jobiniano, acompanhado por um coro em estado de graça. “Não quero mais ir embora”, brincou, para depois cantar ‘Garota de Ipanema’ e ‘O Pato’, acompanhado pelo público, é claro. Depois de 14 anos sem se apresentar no Rio, João matou a saudade e deixou um gosto de quero mais.
No final do show, os artistas que compareceram em peso ao Municipal pareciam inebriados. “João é o núcleo de tudo. E hoje foi sensacional, pediu para todo mundo cantar junto. Ele dá sempre um jeito de driblar o inesperado”, disse Caetano, acompanhado pela ex-mulher, Paula Lavigne, e pelos filhos Zeca e Tom. O primogênito Moreno Veloso também estava lá.
Camila Pitanga, modelo que aparece na capa do CD ‘João Voz e Violão’, lançado em 2000, era só sorrisos. “Não o conheci pessoalmente na época, mas vê-lo ao vivo foi maravilhoso, esse show vai ressoar na minha cabeça ainda por toda a semana”. E na cabeça de Mariana Ximenes também. “Foi arrebatador, a gente sai feliz da vida!”, afirmou a atriz que assistiu a um show do baiano pela primeira vez, assim como os repórteres de O DIA. “Participamos juntos desse momento histórico”.
É verdade, Mariana. Nós e Regina Casé, Carolina Dieckmann, Moraes Moreira, Gilberto Gil, Adriana Calcanhotto, Carlinhos Brown, Marieta Severo e os sortudos que conseguiram comprar os ingressos esgotados em apenas três horas.
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